sábado, 6 de novembro de 2010

Dos sabores que a vida nos proporciona

    
     A quantidade não importa quando olhamos para algumas balas, ainda úmidas que, provavelmente, teriam saído da boca ainda mais úmida do fotógrafo.
     O brilho cristalino chama para que as balas sejam provadas, saboreadas, como o Sol numa manhã de inverno. São balas que, na brancura do seu espaço, ocupam um lugar colorido, atribuindo significado aos desejos.
     Uvas, abacaxis, limões, laranjas e morangos: uma cesta recheada de sabores. Uma foto não possui, ainda, perfume ou gosto. Mas a sensibilidade humana não precisa disso, quando o que vemos é a possibilidade de transformar essas sensações.
     A aleatoriedade, acompanhada da luz (artificial?) divina que paira sobre cada doce é, simultaneamente, a criação e a desconstrução de desejos. Ao querermos provar das balas, queremos provar o fotógrafo, queremos provar o mundo.
Num ato dúbio, enxergamos os signos que se escondem num arco-íris adocicado: as balas são apenas a ausência da boca. Numa foto sobre balas, enxergamos a boca, ausente, sedenta por um doce: o doce da paixão.

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