Foi durante o processo de mestrado que me deparei com um curso de Literatura Francesa. E como minha pesquisa envolvia uma estética elaborada por franceses (mais especificamente Émile Zola), tive o prazer de mergulhar neste universo cartesiano, sob a tutela de uma professora, cuja origem acadêmica é tão francesa quanto Notre Dame.
Como todo estudante da francofonia, quis entender os processos que levaram Gustave Flaubet a escrever obras como Madame Bovary ou Honoré de Balzac, com composições como o conjunto A Comédia Humana.
Em uma das relaxantes, à tarde, no prédio de Letras da UFRJ, começamos a discutir alguns manuais de Literatura Francesa. Lógico que meus olhos correram para a sessão Réalisme. Mas um susto: eles não estavam lá! Balzac e Flaubert não eram vinculados ao Realismo, para os franceses. Discretamente, perguntei à professora sobre tal ausência. E, naquele instante, uma epifania aconteceu. Como em um conto de Clarice Lispector, fui iluminado e minha pesquisa ganhou outros rumos!
Tais autores nunca foram realistas, de acordo com a literatura francesa. Ambos nunca se filiaram, documentalmente, a tal escola composta pelo jornalista Jules-François Champfleury. As obras deles resgatam, sim, ora um romantismo modernizado, afastado do romantismo histórico, ora um romantismo tardio.
Uma bruma tomou conta dos meus pensamentos. Pensei, lógico, no nosso realista, Machado de Assis. O que seria do romance inaugural do Realismo Brasileiro, Memórias Póstumas de Brás Cubas? Um livro cujo narrador é um defunto, além de ser completamente suscetível às próprias emoções, tece um memorial, em vez de uma crônica de costumes. Portanto, não seria Machado um realista?
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