sábado, 6 de novembro de 2010

CANDY STORE - a incrível fábrica de arte da Madonna

Esse texto nasceu depois do show da Madonna, a Sticky and Sweet Tour / 2008.
Dias 14 e 15 últimos foram momentos indescritíveis na minha existência. Conheci pessoas maravilhosas, mas duas em especial. Uma delas, ainda estou conhecendo e não faz parte desta crônica. Mas outra, que passou cerca de 4 horas perto de mim, trocando olhares de relance, uma piscadela e um discreto beijo à distância: essa é que merece o texto.
Desde 1990, quando, vestida de Maria Antonieta, uma loira platinada apareceu pela primeira vez na minha frente, cantando o hino supremo da música pop, Vogue, Madonna conquistou meu coração e minha cabeça.
Foi amor a primeira vista televisiva, um menino de oito anos que via no rosto de uma mulher de 32 um mundo novo se abrindo.
Então comecei a acompanhar a carreira desta estrela. Anos depois, quando ela veio ao Brasil, eu era muito novo para ir ao show. Mas a vi pela TV.
Fui crescendo e, seguindo os conselhos musicais e artísticos dela, me reiventando. Posso dizer que parte do que sou deve-se ao trabalho da Madonna.
Bem, mas o momento que me interessa aqui é o que abrange os shows que ela fez no Rio de Janeiro, arrastando sua parafernália Sticky and Sweet Tour, um conglomerado tecnológico que ultrapassa os limites sensoriais, ativando todos os sentidos simultaneamente.
Começamos a salivar antes de Madonna parecer no palco, com suas candies rolando em telões, o som de uma fábrica de doces em ação. C-A-N-D-Y!
E eis que surge a rainha, na chuva, com uma roupa atípica dos outros shows. Uma bota de gosto duvidoso, mas numa performance inacreditável. Ainda bem que no dia seguinte ela mudou de botas, voltando às originais.
O figurino é um desbunde à parte. Capas belíssimas, sapatos e tênis muito tem desenhados. Algumas falhas, como a peruca de franja que não funciona nem as ombreiras, que a fez ficar como um He-Man intergalático. O ápice do visual é em She's not me, quando ela está vestida de High School 80's, esbanjando jovialidade.
Após Candy Shop, Beat goes on, um hino à vitória pessoal traz ao palco um Rolls Royce branco, cheio de bailarinos.
Human Nature, com Britney Spears nas telas de fundo presa num elevador, é uma glória, na guitarra. A voz masculinizada de Madonna dá um charme a mais à canção. Ticiana, uma nova amiga, pega a palheta que a cantora usara naquele instante.
E chega Vogue, a minha all time favorite song. Num remix assombroso e numa coreografia relativamente fraca, ela me atordoa. Não consigo olhar direito para o palco, meus olhos lacrimejam ao som vibrante.
Into the groove e Heartbeat são dois chicletes. É o clímax performático de Madonna no show. Peepshow, cordas, saltos, cambalhotas: vale tudo para não ficar parada.
Ao fundo, dezenas de imagens de Madonna ao longo dos anos. Dia 14, numa chuva fortíssima, ela cai. Em She's not me, quando demonstra estar possuída por si mesma, a rainha, desbravadora, arranca histéricos gritos ao descompor as dancers vestidas como ela.
Com uma peruca de Like a Vigin, ela se arrasta pelo palco em movimento. Entram outros bailarinos e ela nos leva ao delírio frenético com Music. Ninguém consegue se conter. O  Maracanã se rende ao turbilhão da garota de Detroit.
A audição e a visão não adormeciam um segundo sequer. Sons novos, sons velhos, trechos de músicas de outros cantores. A turnê 'grudenta e doce' era grudenta mesmo.
No meio da chuva, eis que Annie Lennox começa Here comes the rain again. Uma resina perfumadíssima toma conta do ambiente e Madonna surge escondida num gigantesco copo d'água, sobre um piano, Devil wouldn't recognize you é pronunciada como uma oração, numa dança Kabuki.
Spanish Lesson vem em seguida, em telas estonteantes. Miles away começa de forma doce e singela. Ela nos dedica a música: uma platéia que a ama somente à distância. Não presto muita atenção, estou ao telefone com alguém Miles away. Numa dança carismática, chega La isla bonita. Em meio a ciganos, ela canta alegremente.
Uma música romena é inserida para Madonna descansar em pleno palco. E eis que ela canta quase a capela You must love me. Setenta mil pessoas gritam "I love you". Ela responde um ensaiado "Me too".
Os telões mostram caixas de som vibrantes. Chega o momento rave do show. 4 minutes é como o de costume. Nada de novo.
Mas pouco depois, ao som da clássica Like a Prayer, senti as paredes tremerem, o corpo arrepiar, as luzes piscavam, e os diversos nomes de Deus, nas telas, apontavam para a maior cantora pop de todos os tempos... Um arrepio de regozijo preenchia  alma de todos. Não há como sair ileso depois de ela me mandar um beijo na música mais poética que ela escreveu.
Ray of light levanta o público. Ela diz: "Jump". Todos obedecem a rainha, mesmo depois de horas em pé.
Ela finge deixar um fã escolher a música. Domingo, Express yourself. Segunda, Dress you up. Preferi domingo.
Começa a guitarra, novamente, com um tabuleiro de xadrez ao fundo. Hung up. Uma batida boa, mas que perdeu o charme da turnê anterior.
Um aperto no coração. A última música vai começar. Give it to me. Um presente para nós, na segunda, com ela vestindo a camisa do Brasil. Um êxtase, uma epifania. Entrego uma bandeira do Brasil a um dos dançarinos, que brinca de cabo de guerra com ela no palco. O show acaba comigo chorando e gritando, surpreendentemente, a palavra Brasil.
Não grito Madonna. Grito o meu país. E neste momento, percebo que isso é Madonna: ela traz para seus fãs os sentimentos mais intensos, impensáveis. Ela resgata algo que deve estar sempre à tona: energia.
Eu amava platonicamente a imagem da Madonna. Hoje eu amo. Vi-a a dois metros de distância e, naqueles olhos verdes, havia um brilho real. Um brilho da DANCING FUCKING QUEEN. Ela existe, mas não é real. Madonna é um raio de luz, cabelos loiros esvoaçantes, é uma controladora adorável.
Que venham novas turnês!
Amém!
Luiz Junior, 21/12/2008, enquanto ela canta em São Paulo. Esse evento teve a companhia INCRÍVEL do Marcelo, meu amigão de Sampa, tão Madônnico quanto eu.
 

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