segunda-feira, 16 de setembro de 2019

DAS TREVAS À LUZ…



No dia 11 de maio de 2019, acordei às três horas da manhã, feliz da vida. Num frio típico de primavera, cerca de quarto graus, encontrei um grupo de pessoas muito queridas e fizemos uma caminhada. Coisa estranha, andar de madrugada, no frio, no escuro. Mas havia uma causa por detrás...

Foi um evento muito especial. Darkness into light é uma caminhada anual, que tanto simbólica, quanto literalmente, é sair das trevas à luz. Com a finalidade de arrecadar fundos para associações de apoio a pessoas que sofrem de depressão e linhas telefônicas que são suporte a possíveis suicidas (Tel. 1800 247 247 ou SMS HELP 51444), o evento mobiliza centenas de milhares de pessoas por toda a Irlanda (e até fora dela!). Vestindo camisetas amarelas (a cor que simboliza o suicídio), caminhando pelas trevas do Marlay Park, havia adultos, crianças, cães, todo tipo de gente unida, desejando um mundo mais saudável. Nada de mundo mais feliz, porque a depressão nada tem a ver com tristeza, com alegria. Depressão é outro papo, é doença, e tem tratamento.

E estar ali justo na véspera do dia das mães foi muito importante para mim. A minha sofre de depressão há vários anos, passamos maus bocados juntos, e eu era perdido, não entendia o que acontecia com ela, sentia-me fraco, inseguro, incapaz, irremediavelmente imprestável. Demorou bastante tempo para eu entender que não era culpa minha, nem dela, nem de ninguém. Depressão é uma doença, que como outra qualquer, possui seus gatilhos, seus picos agudos e tempos de calmaria.

Também tenho amigos muitos próximos que se enquadram como depressivos. E participar dessa caminhada foi estar ali por uma causa pessoal. Foi entender as trevas, o frio, o vazio da noite da depressão, a ausência de emoções, sentimentos e perspectivas, e, lentamente, acompanhar a aurora, a luz, o brilho do céu recebendo o calor do sol, vermelho, alaranjado. Sol este, que trouxe novamente o brilho dos meus olhos, a possibilidade de olhar o outro, de ver o mundo, de sentir, de ser, de interagir.

Eu estava com pessoas que amo, que respeito, mas à noite, num parque tenebroso, não podia vê-los. Tudo era apenas um amontoado de vozes. Pude entender melhor e vivenciar, pela metáfora, o que é a depressão. E como é difícil estar na noite escura, sentindo-se só. Quando o sol raiou, ao ver os que amo, era como se eu saísse do estado depressivo e, então, pude me conectar com o mundo.

A Irlanda, os irlandeses, mais uma vez, trouxeram-me a experiência como aprendizado, o vivenciar como chance de entender melhor a mim, o outro, o mundo. Saí da escuridão para a luz não como depressivo, mas como ignorante que teve a chance de aprender. E nada nesse mundo nos deixa mais vivo que a vontade de aprender!


Que a aurora seja sempre a nossa busca, a nossa constituição e, mesmo se a depressão nos escurecer, que encontremos os meios e o suporte para voltar à luz. Para voltar aos braços de quem amamos, de quem nos ama. E que a ESPERANÇA/HOPE seja sempre a nossa companheira de jornada, pois nela reside a cura para qualquer doença.


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