terça-feira, 13 de maio de 2014

ESPERANÇA OU CINISMO?

             Se hoje temos de pensar em como agimos, como nos comportamos diante dos outros, quando pensamos em nossa vida emocional, ter esperança é sempre o termo mais adequado quando não sabemos, ainda, que rumos estamos definindo. E definir rumos, quando se trata da vida emocional, de como faremos para construir qualquer possibilidade de sucesso (existe essa palavra no dicionário de Afrodite?) na vida afetiva, estamos mais cínicos ou esperançosos?

            O cinismo remete, sempre, à ideia de falsidade, de criar elementos que fogem do que acreditamos ser coerentes com o que pensamos. E um de seus sinônimos é impostor! Mas seríamos, hoje, impostores, quando falamos que acreditamos no amor, na possibilidade de durar para sempre, quando expressamos profunda esperança no próximo, mas no fundo temos a sensação de descrença, faltando-nos fé?

            Seríamos, então, cínicos em nossa vida afetivo-sexual, já que sempre propagamos a ideia de amor pleno e de eterna comemoração, mas quando na verdade estamos desamparados, sozinhos, com medo e inseguros? 

            Quando eu era menino, tinha alguns gatos. Cresci com eles, foram meus grandes amigos até uns nove anos de idade. Ali, eu acreditava na existência de um amor pleno e absoluto entre mim e aqueles animais. Éramos só nós, ninguém poderia estragar nossa relação. Mas tive de mudar de casa e meus pais optaram por não levar os felinos, já que um apartamento não comportaria os bichos com o mesmo conforto de antes. Vi-me, pela primeira vez, tendo de ser cínico: disse que não havia problemas, que me adaptaria à vida nova, sem meus amores.
           
            Mas não era verdade. Chorava, escondido, com saudades dos meus amigos. Reclamava, bradava dentro dos travesseiros a saudade que ardia em meu peito. E declarar isso seria uma vergonha; um homenzinho não podia sentir saudades nem chorar por gatinhos. Criava subterfúgios, acabei desenvolvendo outras formas de expressar a minha insegurança e o meu medo por não ter por perto quem eu amava.

No fim, não adiantou nada: o que eu escondi tornara-se, em outro nível, mais doloroso. Então o cinismo de um menino de nove resultou em mais dor, em mais angústia. Hoje, aos trinta e dois, ainda estou remoendo essas imagens.  E fico pensando em tantas outras vezes que fingi esperança para o mundo, quando, na verdade, era cinismo.

Trocamos a verdade de nossa alma por um preço mais barato do que acreditamos pagarem. Vendemos  sentimentos que não são nossos e em troca, a moeda de recebimento é vazia. Porém isso quer dizer que a esperança não exista?

Pelo contrário! A verdadeira esperança mora exatamente na sinceridade. Quando assumimos nosso medo, quando externalizamos nossas angústias e exorcizamos o que nos apavora conseguimos retirar a neblina pesada do cinismo e enxergamos a luz que nos habita. Ao eliminarmos nossa tentativa de sermos felizes, assumimos a nossa vontade de fazermos de nós mesmos um meio de felicidade e não o seu fim.


Caso eu tivesse de abandonar de novo meus gatinhos (e tenho abandonado alguns outros tipos de gatos de vez em quando...) em função dos percalços da vida, o que posso dizer é que a vida é assim mesmo. A vida às vezes parece ser uma porcaria. Mas nem sempre. E o cinismo não doura pílulas, mas as enegrece; e qual o antídoto? Não ter esperança. Porque esperança não é uma posse. É senti-la, é fluí-la na vida, deixar que ela venha. Pois se a esperança vier, ela traz o que esperamos junto.


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